sábado, 26 de outubro de 2013

Uma imagem qualquer

Lavava tuas roupas sem esquecer e tirar a tua essência, fazia teu jantar independente do dia da semana e do que eu tivesse que fazer, afinal, tu chegavas acompanhado da razão e do ar de superioridade, o que me fazia ter certeza de que eras tu... Eras tu que fazias meus pés hora se firmassem ao chão, hora acompanhassem os movimentos das nuvens... Tu tinhas teu jeito de controlar as situações, e eu, ser medíocre, por ser desprovida de sentimentos ou razão, te fitava e vidrava meus olhos no que tu me fazias ser, e, acima de tudo, em tu.

Quem eu era? Apenas um ser dependente da tua atenção, das tuas palavras de sabedoria e de alguns abraços que me forçavam, por extinto, a tirar tuas roupas e suspiros.

Eu te convidava, mas era você quem me conduzia. 

Eu era tua.

Eu era tua projeção; tua cópia imperfeita, até porque a insegurança traz a imperfeição.

Eu era a submissão perfeita. Tua satisfação era meu pão de cada dia e minha fome era insaciável. 

Eu era.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Meu presente a você

Tive receio em dizer quanta pena tenho de ti por imaginares situações utópicas, mas de linguagens claras. Contudo, digo: sinto pena de quando tu tentas convencer as plantas sem raízes que brotam à mercê de teus desejos; diria, pássaros presos em gaiolas - as metáforas teriam o mesmo efeito.

Tenho pena da tua limitada sabedoria à longo prazo. Tua idade não te ensinou o que a vida tinha que ensinar: viver. Desprezo tuas rugas, teus cabelos brancos, teus sessenta e pouco anos. Tu és, de fato, aquilo que convém da personalidade, não da maturidade.

Aprendi a rezar pela tua alma, que clama por vida... Súplica do passado mal vivido.

Não te seguro, não te aconselho. Este é o teu fim. Mesmo que te arrependas, aceites essas condições que tu mesma impôs. Fazes teu ser apodrecer. Podre tu já és, falta, apenas, descobrirem que teu corpo está frio, já que teu estado de alegria é vegetativo.

Me condenem... Já! Adoram me culpar por erros alheios.

domingo, 30 de junho de 2013

Vintiligo

O poder de se tornar frígido é brilhante: ninguém segue teus passos para adivinhar ou driblar o teu futuro.

Faças o favor de esconder os teus sorrisos e tuas fraquezas; as pessoas costumam a confudir desabafo com o poder de domínio à vida alheia.

Feches a porta, e somente na presença dos teus olhos atribua sentimentos ao teu dia. Pode ser que ajude. Mas, se não, evites desesperos: ao faleceres, tua dor se torna pó, assim como esse tua anatomia perfeita que parece ser melhor que a de todos.

Se tu não virares pó, também não te desesperes: alguns vermes aguardam ansiosamente pelo teu sangue coagulado e frio.

domingo, 23 de junho de 2013

Só que só

Relendo a maior dor de Luiza


Estou sentada na cafeteria da esquina do seu antigo trabalho e o relógio indica que o dia já completou 16 horas de existência. Tomo um capuccino defeituosamente adocicado só pra dar uma de fashionista e dizer que o nível de açúcar que contem na minha xícara combina com o estado da minha vida.

Durante um gole do líquido tinindo de calor, levanto, lentamente, minha cabeça em direção à rua. Meus olhos estavam vidrados na belíssima textura do meu capuccino, mas meus institos reflexivos os fizeram mirar em seu carro que parava do outro lado da rua.

Você sai do carro depressa e dá três longas passadas para tentar diminuir o atraso do trabalho, mas dá meia volta pois se lembra que esqueceu as chaves da sua sala no porta-luvas - se tivesse mais tempo vago (aposto) arriscaria uma olhada para o café e relembraria do momento em que eu estava exatamente na mesma cadeira e você vinha de encontro a mim para me perguntar como fui no primeiro dia de expediente.

Estou rindo. Esqueço da temperatura com um gole do capuccino e queimo minha língua.

Estou chorando: faço sempre momentos presentes se tornarem metáforas para os momentos passados. Queria teus abraços e nossa sincronização corporal. Mas você, há algum tempo, me agradecia pelo ombro amigo que eu lhe dara.

Me lembro que, depois de meses afastados, você veio me ver com o sorriso mais limpo possível. Eu não ria... não poderia demonstrar nenhuma expressão antes de você falar algo. Então, você me olhou dos pés à cabeça (suponho: queria saber se tudo estava no mesmo lugar), me abraçou e disse ajeitando meu cabelo atrás da minha orelha direita que estava com saudades. Pensei durante exatos três segundos como poderia reagir e te agarrei pelo pescoço para te dar o beijo de salvação. Não existia melhor condição no mundo do que saber que eu estava de volta pra onde nunca deveria ter saído.

Esperançoso lembrar de quando retribuíamos amor. Te espero e percebo que você volta do escritório cheio de pastas e maletas... Nesse momento, você resmunga "Luiza sempre dizia que nunca soube me organizar".

Odeio certos momentos que percebo que respiro e pareço que nunca respirei antes. A ordem de expirar e inspirar entra em confronto e eu fico perdida. O mundo me engole, me chama de estranha, e, de fato, pareço ser quando percebo que a cadeira da minha frente está vazia e a xícara respectiva do lugar não está ocupada pelo café expresso com muito leite.

Numa tentativa de me dispersar para que a situação caótica volte ao normal, levo à boca mais um gole de capuccino amargo (pouco açúcar e muito café) e percebo que a temperatura de vinte minutos atrás é a mesma da desse exato momento no recipiente.

Tenho dito: odeio minhas metáforas aleatórias e inegáveis.

domingo, 9 de junho de 2013

Cuspa

Não chores: o barquinho de papel já não te cabes, e, se coubesse, tu o destruirias com a água ácida que escorre pelos teus olhos. Além disso, tu afundarias em prantos e morreria asfixiado.

Portanto, chores com a boca; ria. Teu riso não escorreria, mas afogaria cabeças maldosas que tiraram tua paz.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Não há nada para esconder

Aconteceu da tua face se encontrar frontalmente com a luminosidade refletida pelo sol que, preguiçoso, vinha de mansinho para começar a avisar que chegara. Eu via tua pele amarela realçar tua barba por fazer - pelo menos ela existia - e também a sentia arranhar meu rosto de tal forma que eu me sentisse masoquista e implorasse por mais. Eu tinha medo do teu jeito atrapalhado e cheio de dedos ao se posicionar na minha frente, mas acabei me divertindo com o teu sorriso largo de dentes grandes e extremamente brancos: teus defeitos viram meros detalhes.

Ouvi tua voz gritando meu nome e sobrenome. Vim te buscar.

Eu preciso de mais e demais disso. Eu preciso e espero que você também.

domingo, 26 de maio de 2013

Scream

Sutilmente dei três batidinhas no cigarro para disfarçar o riso amarelo que dava enquanto você mordia meu ombro esquerdo. Pensei ter te dado náuseas por ele estar coberto com meu cabelo, mas parecia que tu te deliciavas com o cheiro de xampú de camomila que flutuava aos arredores do meu corpo. Eu fingia emoções, mas, na verdade, queria demonstrar muito mais... Tu vinhas com aquela conversa de "como foi teu dia" e eu não tirava os olhos do teu coturno sujo... Como poderia demonstrar amor pelos teus coturnos sujos? Novamente sorri amarelo e fingi prestar atenção numa conversa (digo, desabafo) que soava um tanto quanto desesperador... O sujeito pedia conselhos e o processamento da resposta foi lento. Custou, mas respondi. Voltar a realidade de vez em quando é confortante: quero resistir aos teus gritos de sorvete.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Someday, claro.



Eu era tão pequena... Mas pequena porque minha identidade diminuía 1996 anos do ano atual e meus passos eram guiados pelos teus.
Eu te via tão grande... Ainda mais quando tinha dificuldade de encaixar nossos olhos. A linha tomava uma rota diagonal, mas eu sempre me contentava. Estar na altura dos teus ombros e enxergar perfeitamente tua boca era mais eficaz.
Tanto me acomodei em não conseguir ler teus olhos que acabei a ficar sem entender tuas perspectivas, sonhos e desejos. Ou simplesmente a falta deles. 
Os transtornos causam dor. Sou tão pequena que elas não cabem mais em mim. Se ao menos eu crescesse...
Talvez comer a dor seja uma solução para a evolução. Se for, comprovarei a teoria infantil (ou não) de que comer é o melhor para poder crescer.