domingo, 26 de maio de 2013

Scream

Sutilmente dei três batidinhas no cigarro para disfarçar o riso amarelo que dava enquanto você mordia meu ombro esquerdo. Pensei ter te dado náuseas por ele estar coberto com meu cabelo, mas parecia que tu te deliciavas com o cheiro de xampú de camomila que flutuava aos arredores do meu corpo. Eu fingia emoções, mas, na verdade, queria demonstrar muito mais... Tu vinhas com aquela conversa de "como foi teu dia" e eu não tirava os olhos do teu coturno sujo... Como poderia demonstrar amor pelos teus coturnos sujos? Novamente sorri amarelo e fingi prestar atenção numa conversa (digo, desabafo) que soava um tanto quanto desesperador... O sujeito pedia conselhos e o processamento da resposta foi lento. Custou, mas respondi. Voltar a realidade de vez em quando é confortante: quero resistir aos teus gritos de sorvete.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Someday, claro.



Eu era tão pequena... Mas pequena porque minha identidade diminuía 1996 anos do ano atual e meus passos eram guiados pelos teus.
Eu te via tão grande... Ainda mais quando tinha dificuldade de encaixar nossos olhos. A linha tomava uma rota diagonal, mas eu sempre me contentava. Estar na altura dos teus ombros e enxergar perfeitamente tua boca era mais eficaz.
Tanto me acomodei em não conseguir ler teus olhos que acabei a ficar sem entender tuas perspectivas, sonhos e desejos. Ou simplesmente a falta deles. 
Os transtornos causam dor. Sou tão pequena que elas não cabem mais em mim. Se ao menos eu crescesse...
Talvez comer a dor seja uma solução para a evolução. Se for, comprovarei a teoria infantil (ou não) de que comer é o melhor para poder crescer.